Caminhava com pressa na transição entre manhã e tarde de uma segunda-feira. Castigada pelo sol. Descia desde a Praça Cívica, pelo canteiro da Avenida Goiás onde tantas vezes andara apressada, a mão esquerda segurando a bolsa, a cabeça cheia de pensamentos. Me dirigir ao Banco. Descer para a loja de utilidades. Que tal entrar num sebo, só dar uma olhadinha? Nem vou gastar muito com livros hoje! Aquela Avenida Goiás de pessoas que iam e vinham, de linhas de ônibus que iam para as mais diferentes regiões da cidade, de ambulantes com carrinhos de frutas, de comércios populares de utilidades vindas da China. Aquela Avenida Goiás onde, seis anos antes, andara pela primeira vez em Goiânia seguindo a mãe apressada, com medo de me perder na nova cidade.
Ainda me perco. Não geograficamente, visto que tenho o costume de andar por aquele pedacinho da capital. Me perco na ideia de que naquele cruzamento Norte-Sul-Leste-Oeste, Goiânia parece ter vida própria. Me perco perguntando-me quem pintara o casal se beijando sob um guarda-chuva verde na parede de um prédio. Me perco imaginando o sabor das frutas que o ambulante anuncia aos gritos. Me perco vendo o reflexo do sol nos cabelos de uma mulher que atravessa a avenida.
Hoje mais uma vez me perdi. Andava apressada, descia a avenida que corta a cidade de Norte a Sul mentalizando um almoço de dez reais, quando sou forçada a parar. Porque antes não via nada, exceto o óbvio. Sinal fechado, sinal aberto. Carro. Moto. Meio-fio. Lixeira. Alguém no sentido contrário. Via sem ver. E de repente… Uma quebra na mesmice.
Sob o caramanchão no canteiro central da Avenida Goiás, ao lado do cruzamento com a Rua 3, havia um balanço feito de duas cordas simples penduradas na estrutura de concreto, que terminavam em nós numa tábua larga e comprida. Um graveto, certamente caído da buganvília florida que se apoiava sobre a estrutura, repousava sobre a tábua. Uma corda mais fina, bem acima do balanço, segurava uma pequena placa, que o vento agitava para os lados. Sente e leia, ela dizia. Ao redor, também pendurados no caramanchão, vários barbantes seguravam livros, à espera de passantes curiosos.
Naquela transição entre manhã e tarde de segunda-feira, sob sol forte, esfomeada, eu me forçava a parar. Sumiam carros, motos, buzinas, pessoas apressadas, e horários e compromissos e o almoço que me espere um pouco mais! Era preciso parar. Era bonito demais para não ser admirado.
O balanço sob o caramanchão me faz lembrar de tantas vezes que, apressada, imaginei como seria agradável sentar em um dos bancos daquele canteiro central e, despreocupadamente, ler um livro qualquer até cansar. Se a cidade não fosse tão perigosa e não fossem tantos os compromissos e tão grandes as distâncias e tão mais urgentes as preocupações rotineiras! Eu certamente teria me sentado e lido. Fazem cinco anos e eu nunca me sentei.
Mas há o almoço. E há a exposição de fotografia. E é preciso comprar marcadores adesivos. E voltar para casa, enviar e responder e-mails. Há quatro capítulos de O Capital esperando para serem lidos, e sabe-se lá quantas páginas de um texto (para amanhã!) que sequer copiei.
Mas o balanço permanecerá
Como a coisa mais bonita
Que avistei numa segunda-feira
Apressada, calorenta, esfomeada.
A coisa que me despertou de volta a poesia.
E esta, como o balanço, permanece.